Nascido junto com o jazz, Louis Armstrong cresceu no bairro mais pobre de New Orleans e só não entrou para o crime porque se tornou pupilo de Joe King Oliver. A partir de então, seu trompete e seu sorriso conquistaram o mundo
Chicago, meados da década de 1920. A capital industrial dos Estados Unidos vivia sua era dourada, quando a prosperidade econômica caminhava lado a lado com o banditismo. Essa efervescência era embalada por um novo ritmo surgido no sul do país, o jazz. E em meio à enxurrada de músicos que haviam migrado para a cidade nos últimos anos, atraídos pelas oportunidades oferecidas pela metrópole, um se destacava: seu nome era Louis Armstrong, e ele se tornaria o maior jazzista de todos os tempos.
Apesar de sua carreira ter durado cerca de 50 anos e de sua música ser a mais emblemática do século XX, foi na fase inicial de sua trajetória profissional, entre o início da década de 1920 e o fim dos anos 1930, que Armstrong demonstrou todo o seu potencial criativo. Depois disso, Satchmo, como foi apelidado, apenas administrou os frutos da revolução musical que promoveu no intervalo entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Não se pode contar a história de Armstrong sem descrever sua cidade natal, New Orleans, e sem falar da música que nela floresceu. Para ser o gigante que foi, Satchmo precisou ser vários. O jazz foi uma criação coletiva, e ele soube incorporar as diversas influências que circulavam justamente onde se formou: nas ruas dos bairros pobres da capital da Luisiana.
Praticamente órfão, ele passou a infância no gueto, onde aprendeu a associar a melodia da miséria às lições da escola da vida. Sua verdadeira data de nascimento permaneceu desconhecida por décadas e só foi descoberta recentemente: 4 de agosto de 1901. Ele mesmo dizia ter vindo ao mundo em 4 de julho de 1901, no dia do aniversário da independência dos Estados Unidos. A escolha se explica: essa era a data que figurava nos registros das crianças cujo dia exato de nascimento não se conhecia.
Armstrong cresceu em uma cidade que era o ponto de cruzamento de diversas culturas, onde se misturavam populações das mais diversas origens. Em New Orleans, a burguesia de ascendência francesa convivia com imigrantes pobres vindos de diversos países europeus (italianos, albaneses, poloneses, alemães, irlandeses) e com descendentes dos escravos trazidos da África e do Caribe. Além disso, a América do Sul não fica muito distante dessa parte dos Estados Unidos, e os sinais dessa proximidade eram nítidos na cidade.
A complexidade étnica trouxe uma enorme riqueza musical, cujas bases eram os ritmos de origem africana e a cultura francesa, que conferiu à cidade sua tonalidade, seu caráter risonho, descontraído e tão particular. New Orleans é uma cidade mais católica do que protestante, ao contrário da maioria das cidades americanas. Tudo nela sempre foi leve, libertino (ou quase), com música por toda parte.
O som acompanhava todos os momentos da vida, dos casamentos aos enterros, que serviam de pretexto para a organização de desfiles pelas ruas. A música animava as festas e bailes populares, esparramando-se por todo tipo de lugar: desde as margens do lago Pontchatrain até os parques onde eram instaladas pistas de dança. Tudo era motivo para festejos, em uma época em que a dança era quase um esporte nacional.
New Orleans era um grande baile, muitas vezes a céu aberto. Como as influências culturais que coabitavam na cidade eram muito diversas, seu produto cultural, o jazz, só podia ser um gumbo (caldo apimentado típico da culinária local). Com certeza o ritmo não nasceu em New Orleans, nem em qualquer outro lugar específico, mas se desenvolveu, ao mesmo tempo, em diversas metrópoles dos Estados Unidos. Talvez tenha apenas “fermentado” um pouco mais na capital da Luisiana do que nas outras cidades.
Louis Armstrong passou a infância ouvindo todas as músicas que flutuavam no ar de New Orleans. Era o início do século XX, época em que os melhores intérpretes e compositores da cidade começaram a migrar para o norte, atraídos pelas oportunidades oferecidas por centros industriais como Chicago. Aqueles foram os anos de formação de Satchmo. Os sons estavam por toda parte. Por causa do clima ameno, não havia baixa estação em New Orleans. Os desfiles nas ruas sempre eram seguidos por bandos de crianças entusiasmadas com a festa das fanfarras. Os pequenos tinham plena consciência do prestígio dos músicos - e sonhavam em um dia ser um deles. Não há dúvida de que a vocação de Armstrong vem daí.
Quando jovem, Louis Armstrong teve de aprender também a conviver com o racismo onipresente. No início do século XX a onda de discriminação atingiu seu ponto culminante na Luisiana, quando os brancos aumentaram ainda mais seu controle sobre New Orleans. Tratava-se de demonstrar que o liberalismo dos primeiros anos após a Guerra de Secessão tinha chegado ao fim e que já não havia espaço para a participação dos negros na política. O terror e os linchamentos voltaram com força.
Chicago, meados da década de 1920. A capital industrial dos Estados Unidos vivia sua era dourada, quando a prosperidade econômica caminhava lado a lado com o banditismo. Essa efervescência era embalada por um novo ritmo surgido no sul do país, o jazz. E em meio à enxurrada de músicos que haviam migrado para a cidade nos últimos anos, atraídos pelas oportunidades oferecidas pela metrópole, um se destacava: seu nome era Louis Armstrong, e ele se tornaria o maior jazzista de todos os tempos.
Apesar de sua carreira ter durado cerca de 50 anos e de sua música ser a mais emblemática do século XX, foi na fase inicial de sua trajetória profissional, entre o início da década de 1920 e o fim dos anos 1930, que Armstrong demonstrou todo o seu potencial criativo. Depois disso, Satchmo, como foi apelidado, apenas administrou os frutos da revolução musical que promoveu no intervalo entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Não se pode contar a história de Armstrong sem descrever sua cidade natal, New Orleans, e sem falar da música que nela floresceu. Para ser o gigante que foi, Satchmo precisou ser vários. O jazz foi uma criação coletiva, e ele soube incorporar as diversas influências que circulavam justamente onde se formou: nas ruas dos bairros pobres da capital da Luisiana.
Praticamente órfão, ele passou a infância no gueto, onde aprendeu a associar a melodia da miséria às lições da escola da vida. Sua verdadeira data de nascimento permaneceu desconhecida por décadas e só foi descoberta recentemente: 4 de agosto de 1901. Ele mesmo dizia ter vindo ao mundo em 4 de julho de 1901, no dia do aniversário da independência dos Estados Unidos. A escolha se explica: essa era a data que figurava nos registros das crianças cujo dia exato de nascimento não se conhecia.
Armstrong cresceu em uma cidade que era o ponto de cruzamento de diversas culturas, onde se misturavam populações das mais diversas origens. Em New Orleans, a burguesia de ascendência francesa convivia com imigrantes pobres vindos de diversos países europeus (italianos, albaneses, poloneses, alemães, irlandeses) e com descendentes dos escravos trazidos da África e do Caribe. Além disso, a América do Sul não fica muito distante dessa parte dos Estados Unidos, e os sinais dessa proximidade eram nítidos na cidade.
A complexidade étnica trouxe uma enorme riqueza musical, cujas bases eram os ritmos de origem africana e a cultura francesa, que conferiu à cidade sua tonalidade, seu caráter risonho, descontraído e tão particular. New Orleans é uma cidade mais católica do que protestante, ao contrário da maioria das cidades americanas. Tudo nela sempre foi leve, libertino (ou quase), com música por toda parte.
O som acompanhava todos os momentos da vida, dos casamentos aos enterros, que serviam de pretexto para a organização de desfiles pelas ruas. A música animava as festas e bailes populares, esparramando-se por todo tipo de lugar: desde as margens do lago Pontchatrain até os parques onde eram instaladas pistas de dança. Tudo era motivo para festejos, em uma época em que a dança era quase um esporte nacional.
New Orleans era um grande baile, muitas vezes a céu aberto. Como as influências culturais que coabitavam na cidade eram muito diversas, seu produto cultural, o jazz, só podia ser um gumbo (caldo apimentado típico da culinária local). Com certeza o ritmo não nasceu em New Orleans, nem em qualquer outro lugar específico, mas se desenvolveu, ao mesmo tempo, em diversas metrópoles dos Estados Unidos. Talvez tenha apenas “fermentado” um pouco mais na capital da Luisiana do que nas outras cidades.
Louis Armstrong passou a infância ouvindo todas as músicas que flutuavam no ar de New Orleans. Era o início do século XX, época em que os melhores intérpretes e compositores da cidade começaram a migrar para o norte, atraídos pelas oportunidades oferecidas por centros industriais como Chicago. Aqueles foram os anos de formação de Satchmo. Os sons estavam por toda parte. Por causa do clima ameno, não havia baixa estação em New Orleans. Os desfiles nas ruas sempre eram seguidos por bandos de crianças entusiasmadas com a festa das fanfarras. Os pequenos tinham plena consciência do prestígio dos músicos - e sonhavam em um dia ser um deles. Não há dúvida de que a vocação de Armstrong vem daí.
Quando jovem, Louis Armstrong teve de aprender também a conviver com o racismo onipresente. No início do século XX a onda de discriminação atingiu seu ponto culminante na Luisiana, quando os brancos aumentaram ainda mais seu controle sobre New Orleans. Tratava-se de demonstrar que o liberalismo dos primeiros anos após a Guerra de Secessão tinha chegado ao fim e que já não havia espaço para a participação dos negros na política. O terror e os linchamentos voltaram com força.